"Até pouco tempo, antes da Constituinte, nem banheiro feminino tinha no Plenário", diz a petista Laisy Moriére tentando justificar a falta de candidaturas femininas para o Congresso. Secretária nacional de mulheres do PT, ela diz que pensa em deixar o posto de dirigente para se candidatar, mas ainda não pôde. "Só disputo eleição se for para ser eleita e isso é difícil".
Já no PV, a candidata a deputada estadual e também secretária para mulheres Regina Gonçalves conta que já viu mulheres se filiarem ao partido e desistirem para poder tomar conta da família. A presidente do PSDB Mulher, deputada Thelma de Oliveira, argumenta ainda que outras desistem da política por falta de apoio dos maridos.
Uma novidade na lei aprovada no ano passado exige que os partidos tenham pelo menos 30% de mulheres candidatas. No primeiro pleito sob a nova medida, foram poucos os partidos e coligações que conseguiram cumpri-la. Não há uma punição prevista para o partido que não atingir esses 30%.
No Democratas, foram apenas 5,2% de mulheres inscritas como candidatas a deputadas federais. No PMDB, 12,2%. No PV, 23,3% e no PT, 28,3%. Já o PSDB atingiu a meta, 32%. O dado, porém, não inclui os candidatos registrados por coligações. Por exemplo, um total de 97 candidatos a deputado federal foi inscrito pela coligação PRB/PT /PR/PC do B/PT do B, mas só 9,3% eram mulheres.
Laisy não perde tempo fazendo defesas.
- É culpa do partido também. O partido tem que investir mais nas mulheres, por exemplo, mudando a reunião para um horário em que a mulher não tenha que cuidar dos filhos, oferecendo formação política para a mulher - reclama.
A coordenadora do programa da ONU para mulheres, Júnia Puglia, reforça a opinião de Laisy.
- Eu concordo que a cota pode não ser a melhor forma. Seria interessante se os partidos abrissem um espaço político de verdade. Se dissessem "nós temos interesse que vocês aprendam como se faz política".
Para Thelma, a cota contribui porque obriga os partidos a se preocuparem com as candidaturas femininas. "A cota impede os partidos de ficarem lançando candidaturas laranjas. Aquela do tipo 'lança que a pessoa participa e só'. Ou lança ou aquelas vagas que seriam das mulheres não podem ser preenchidas por homens". Assim como Laisy, ela critica a falta de investimento partidário em capacitação política para as mulheres.
Uma questão financeira
A lei aprovada na verdade não faz referência a mulheres. A exigência é que o partido tenha pelo menos 30% de candidatos de qualquer que seja o sexo minoritário. Se as mulheres fossem maioria, então haveria uma cota para homens. Na prática, porém, a política é um universo majoritariamente masculino, acreditam as políticas.
"Historicamente, o exercício de poder sempre foi território masculino", aponta Júnia. Laisy não quer enfrentar as urnas porque diz que vai faltar dinheiro para a campanha. Na hora de conseguir doações de empresas, "os homens sempre vão ganhar mais dinheiro que as mulheres", critica.
Regina não discorda, embora evite a polêmica. "É de conhecimento de todos que, porque as candidaturas masculinas têm uma maior tradição, é óbvio que, quando você vai buscar apoiadores, eles vão fazer uma análise de um currículo que tenha um histórico mais consolidado, mas eu pessoalmente nunca senti isso".
Para Thelma, o modelo de financiamento atual privilegia candidaturas que já têm recursos e políticos que são costumeiramente candidatos, o que termina por dar vantagem aos homens. Ela defende a reforma no modelo de financiamento como uma chance para as mulheres.
Por Dayanne Souza
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