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sexta-feira, 29 de abril de 2011

CARTA DE CANANÉIA

Manifesto em prol da unidade em torno do
ideal da Social Democracia Brasileira

O PSDB, o Partido da Social Democracia Brasileira, vive um momento de reflexão. Estamos a cerca de duas semanas da convenção estadual e a dois meses do aniversário do partido que completa em junho 23 anos de existência.

No Brasil somos oito governadores, 10 senadores, 780 prefeitos, 6.500 vereadores, 120 deputados estaduais e 53 deputados federais. Em São Paulo, 202 prefeitos, 116 vice-prefeitos, 1.127 vereadores, um senador e um governador.

Os líderes políticos da Baixada Santista e do Vale do Ribeira vêm reiterar o enorme respeito que têm pelo governador Geraldo Alckmin como pelos demais governantes do PSDB e pelas suas trajetórias política, construída com competência e respeito aos princípios éticos. Estamos seguros das atitudes políticas que o governo terá que adotar.

Somos uma unidade que quer mostrar a grandeza do PSDB, ajudar os menos favorecidos e apoiar as classes média e alta pelo interesse público e não os particulares. O silêncio, muitas vezes é a arma forte que o interesse pessoal não destrói. Porém, este momento é o de demonstrar um sentimento de unidade.

Os últimos acontecimentos no cenário político parecem ter colocado a história do partido em xeque. Mas a sua tradição, aliada com a trajetória de seus principais líderes, está muito acima de qualquer tipo de problema.

O país vive um momento de incertezas com a reforma da política eleitoral, com as armadilhas das emendas parlamentares federais e com falsos discursos cujos projetos não saem do papel, como o Programa de Aceleração do Crescimento – PAC.

Nós, representantes da Baixada Santista e Vale do Ribeira, temos certeza que a proposta do partido sempre será levada adiante. E queremos deixar claro que estamos todos unidos em torno do ideal da Social Democracia Brasileira pelo bem do povo e da nação.

Parabéns Governador. Parabéns PSDB. Contem com nosso apoio.
Prefeitos e vice-prefeitos do PSDB da Baixada Santista e Vale do Ribeira


CANANÉIA, 28 DE ABRIL DE 2011

ADRIANO CESAR DIAS
Prefeito de Cananéia

LUIZ HENRIQUE KOGA
Prefeito de Cajati, representado pelo chefe de Gabinete Hordene Mazzoline

DÉCIO JOSÉ VENTURA
Prefeito de Ilha Comprida

JOÃO CARLOS FORSSELL
Prefeito de Itanhaém

DINAMÉRICO GONÇALVES PERONI
Prefeito de Itariri

DÉA FÁTIMA VIANA LEITE MOREIRA DA SILVA
Prefeita de Miracatu

JOAQUIM FERNANDES BRANCO
Vice-prefeito de Miracatu

ALVINO GUILHERME MARZEUSKI
Prefeito de Tapiraí

Com concordância:

ROBERTO FRANCISCO
Prefeito de Praia Grande

CARLOS TEIXEIRA FILHO
Vice-prefeito de Santos

ARLINDO FAGUNDES
Vice-prefeito de Cubatão

ENCONTRO COM OS PREFEITOS:VIA BLOG DO FORSSELL


O encontro reuniu Prefeitos, vice-Prefeitos e representantes do PSDB da região. O manifesto é em prol da unidade em torno do ideal da Social Democracia Brasileira.

Presentes no encontro: o Prefeito de Cananéia, ADRIANO CESAR DIAS, o Prefeito de Ilha Comprida, DÉCIO JOSÉ VENTURA, o Prefeito de Itariri, DINAMÉRICO GONÇALVES PERONI, a Prefeita de Miracatu, DÉA FÁTIMA VIANA LEITE MOREIRA DA SILVA e seu vice, JOAQUIM FERNANDES BRANCO, o Prefeito de Tapiraí, ALVINO GUILHERME MARZEUSKI, e o chefe de Gabinete da Prefeitura de Cajati, Hordene Mazzoline, representando o Prefeito LUIZ HENRIQUE KOGA.

Concordaram com o manifesto o Prefeito de Praia Grande, ROBERTO FRANCISCO, o Vice-Prefeito de Santos, CARLOS TEIXEIRA FILHO e o Vice-Prefeito de Cubatão, ARLINDO FAGUNDES.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Na TV, senador tucano diz que Serra "jamais recuou das prévias" no partido

GENTE QUE MENTE

Eduardo Graeff, Folha de S. Paulo, 20/04/11

Vou andar com uma cópia do artigo que o senador Walter Pinheiro publicou aqui contra Fernando Henrique Cardoso (“O príncipe e o povo”, 17/4/2011). Vai ser útil quando me perguntarem qual é, afinal, o problema do PT.

O grande problema é a desonestidade. Não falo só da corrupção desenfreada. Pior que isso, para mim, é a desonestidade intelectual: o uso sistemático da mentira como arma política. Este é o pecado original que inspira outros pecados do PT, idiotiza seus quadros, polui sua relação com os aliados, azeda o diálogo com adversários e o indispõe com a liberdade de imprensa.

O ataque do senador petista escancara esse problema. A leitura deturpada de um artigo de FHC (“O papel da oposição”, reproduzido pela Folha.com em 13/4/2011) foi o pretexto do senador para martelar numa velha tecla: FHC não tem “sentimento de povo”!

O PT repete baboseiras como essa desde que escolheu FHC como inimigo. A escolha, como se sabe, deu-se em 1993. FHC pediu apoio ao PT para o Plano Real. Em troca, o PSDB poderia apoiar Lula para presidente em 1994, como apoiara em 1989. O PT preferiu apostar contra o real. O plano deu certo, o PSDB lançou FHC para presidente e ele derrotou Lula no primeiro turno. Imperdoável!

Um erro leva a outros. Do Fundo Social de Emergência à Lei de Responsabilidade Fiscal, o PT se opôs a tudo que representou consolidação da estabilidade e modernização da economia no governo FHC. Como se opôs a tudo que representou inovação das políticas sociais, do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef) à Bolsa Escola, que Lula chamou de “Bolsa Esmola”.

A inconsistência das “bravatas” ficou clara quando Lula chegou ao governo e abraçou as políticas de FHC. Isso não impediu Lula de inventar a “herança maldita”. Nem impede o PT de atacar a sua caricatura de Fernando Henrique com tanto mais fúria quanto menos evidentes ficam as diferenças de suas políticas com as do FHC real.

Walter Pinheiro levou esse expediente ao nível do grotesco. Segundo ele, no governo FHC o povo “comia uma vez a cada três dias”. Só foi comer três vezes por dia no governo Lula. Supõe-se que o povo foi votar em 1998 de barriga vazia. Na verdade, reelegeu FHC porque queria manter as conquistas do real. Nos oito anos antes de FHC, o valor real do salário mínimo, roído pela inflação, diminuiu 36%; o valor das aposentadorias do INSS maiores que o mínimo diminuiu 56%. Nos oito anos de FHC, o salário mínimo teve aumento real de 44% e as aposentadorias tiveram aumento real de 21%.

Como se o repertório de mentiras do PT não bastasse, o senador desenterrou uma lorota de Jânio Quadros. Com um toque pessoal: a “arguição” a que o senador se refere, sobre onde fica Sapopemba, nunca ocorreu, porque Jânio fugiu dos debates com FHC. A frase colou pelo jeito histriônico como Jânio pronunciou “Sa-po-pem-ba”. Se ele sabia chegar lá, esqueceu como prefeito. O PT também. As grandes obras da prefeitura petista de São Paulo foram dois túneis malfeitos ligando os bairros ricos das margens do rio Pinheiros. E as palmeiras imperiais na frente do Shopping Iguatemi.

Fino “sentimento de povo”, com efeito.

EDUARDO GRAEFF, 61, é cientista político. Foi secretário-geral da Presidência da República de Fernando Henrique Cardoso.

LIDER DO PSDB DISCUTE ALIANÇA COM DEM E NÃO DESCARTA FUSÃO


O presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, confirmou a declaração dada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de que pode haver uma fusão do partido com o DEM, “mas isso é um assunto para longo prazo”. Guerra se reuniu com ACM Neto (DEM) para um almoço nesta tarde.

Segundo o líder do PSDB, foi estabelecido que as duas legendas trabalhem na articulação de alianças com vistas às próximas eleições municipais, em 2012. A possível fusão entre os partidos não foi discutida durante o encontro.

Guerra negou que o partido esteja passando por uma crise. Em relação aos vereadores que estão deixando a legenda ele afirmou que “o que há em São Paulo são movimentos conhecidos da política brasileira, de vereadores acompanharem os prefeitos”, disse relacionando com a saída do prefeito Gilberto Kassab para a criação de uma nova legenda, o PSD.

Em relação à saída do secretário de Esportes da Prefeitura de São Paulo, Walter Feldman, “é uma coisa que vem desde 2008, quando ele defendeu a candidatura de Kassab e não de [Geraldo] Alckmin, para a prefeitura de São Paulo”, disse. Feldman, um dos fundadores do PSDB, anunciou sua saída da legenda na última segunda-feira.

“O PSDB confia no trabalho do governo de São Paulo. E o sucesso do partido no Estado está diretamente ligado a esse resultado”, concluiu Guerra.

Fonte:Diario Tucano

quarta-feira, 13 de abril de 2011

PSDB ELEGE MEMBROS DO DIRETÓRIO ESTADUAL E DELEGADOS A CONVENÇÃO NACIONAL


O secretário estadual de Meio Ambiente, Bruno Covas, e o vereador de Praia Grande, Katsu Yonamine, foram eleitos por aclamação membros titulares do diretório estadual do PSDB, representando a Baixada Santista e o Vale do Ribeira. A suplência ficou para Mário Sérgio Matsumoto, de Registro. A reunião regional, coordenada pelo deputado federal Alberto Mourão, indicou, também por consenso, delegada à convenção nacional e dois suplentes.
Representantes de todos os municípios estiveram presentes no encontro, realizado em Praia Grande. Para evitar disputas e propiciar a escolha por consenso, quatro candidatos aos cargos abriram mão da inscrição, entre eles o presidente do diretório da cidade e ex-deputado estadual , Cássio Navarro.
Presenças - Mais de 100 membros participaram do evento, cuja mesa de trabalhos, coordenada por Mourão e presidida por Covas, foi integrada pelos prefeitos Roberto Francisco, João Carlos Forssell e Dinamérico Peroni, respectivamente de Praia Grande, Itanhaém e Itariri. E ainda por Raul Christiano e Koyu Iha.
Delegada à convenção nacional foi eleita Irene Tupiná, de Mongaguá, tendo como suplentes Alfredo Moura, de São Vicente e o vereador Flávio Abbassi, de Itanhaém.
União - Em seus discursos, a maioria dos tucanos destacou a importância do consenso e da união para o fortalecimento do partido. Koyu Iha, ex-prefeito de São Vicente e um dos fundadores do PSDB, falou de princípios éticos. Covas agradeceu pela confiança em seu nome e conclamou esforços paras as eleições de 2012 e 2014.
Depois de agradecer aos que abriram mão de suas candidaturas em nome do consenso, Alberto Mourão fez uma crítica à falta de diálogo do partido em nível nacional. “A bancada não conversa. Existe vida além de São Paulo e Minas Gerais. Se não houver debates, não chegaremos à vitória”.
Cargos – O coordenador regional Mourão finalizou seu discurso defendendo a ampliação das discussões dos tucanos pelo país afora e disparou: “Antes da eleição, ninguém quer carregar o andor e amassar barro. Depois, todos querem cargos. É preciso acabar com o nariz empinado”. E elogiou a mais recente manifestação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), no sentido de que os tucanos devem buscar seu eleitorado.
Segundo a Folha de São Paulo, FHC afirmou que os tucanos devem parar de tentar disputar com o PT a influência sobre os “movimentos sociais” e o “povão”, e devem conquistar a classe média.

O PAPEL DA OPOSIÇÃO > FERNANDO HENRIQUE CARDOSO* PUBLICADO EM 12/04/2011


Há muitos anos, na década de 1970, escrevi um artigo com o título acima no jornal Opinião, que pertencia à chamada imprensa “nanica”, mas era influente. Referia-me ao papel do MDB e das oposições não institucionais. Na época, me parecia ser necessário reforçar a frente única antiautoritária e eu conclamava as esquerdas não armadas, sobretudo as universitárias, a se unirem com um objetivo claro: apoiar a luta do MDB no Congresso e mobilizar a sociedade pela democracia.

Só dez anos depois a sociedade passou a atuar mais diretamente em favor dos objetivos pregados pela oposição, aos quais se somaram também palavras de ordem econômicas, como o fim do “arrocho” salarial. No entretempo, vivia-se no embalo do crescimento econômico e da aceitação popular dos generais presidentes, sendo que o mais criticado pelas oposições, em função do aumento de práticas repressivas, o general Médici, foi o mais popular: 75% de aprovação.

Não obstante, não desanimávamos. Graças à persistência de algumas vozes, como a de Ulisses Guimarães, às inquietações sociais manifestadas pelas greves do final da década e ao aproveitamento pelos opositores de toda brecha que os atropelos do exercício do governo, ou as dificuldades da economia proporcionaram (como as crises do petróleo, o aumento da dívida externa e a inflação), as oposições não calavam. Em 1974, o MDB até alcançou expressiva vitória eleitoral em pleno regime autoritário.

Por que escrevo isso novamente, 35 anos depois?

Para recordar que cabe às oposições, como é óbvio e quase ridículo de escrever, se oporem ao governo. Mas para tal precisam afirmar posições, pois, se não falam em nome de alguma causa, alguma política e alguns valores, as vozes se perdem no burburinho das maledicências diárias sem chegar aos ouvidos do povo. Todas as vozes se confundem e não faltará quem diga – pois dizem mesmo sem ser certo – que todos, governo e oposição, são farinhas do mesmo saco, no fundo “políticos”. E o que se pode esperar dos políticos, pensa o povo, senão a busca de vantagens pessoais, quando não clientelismo e corrupção?

Diante do autoritarismo era mais fácil fincar estacas em um terreno político e alvejar o outro lado. Na situação presente, as dificuldades são maiores. Isso graças à convergência entre dois processos não totalmente independentes: o “triunfo do capitalismo” entre nós (sob sua forma global, diga-se) e a adesão progressiva – no começo envergonhada e por fim mais deslavada – do petismo lulista à nova ordem e a suas ideologias.

Se a estes processos somarmos o efeito dissolvente que o carisma de Lula produziu nas instituições, as oposições têm de se situar politicamente em um quadro complexo.

Complexidade crescente a partir dos primeiros passos do governo Dilma que, com estilo até agora contrastante com o do antecessor, pode envolver parte das classes médias. Estas, a despeito dos êxitos econômicos e da publicidade desbragada do governo anterior, mantiveram certa reserva diante de Lula. Esta reserva pode diminuir com relação ao governo atual se ele, seja por que razão for, comportar-se de maneira distinta do governo anterior.

É cedo para avaliar a consistência de mudanças no estilo de governar da presidente Dilma. Estamos no início do mandato e os sinais de novos rumos dados até agora são insuficientes para avaliar o percurso futuro.

É preciso refazer caminhos

Antes de especificar estes argumentos, esclareço que a maior complexidade para as oposições se firmarem no quadro atual – comparando com o que ocorreu no regime autoritário, e mesmo com o petismo durante meu governo, pois o PT mantinha uma retórica semianticapitalista – não diminui a importância de fincar a oposição no terreno político e dos valores, para que não se perca no oportunismo nem perca eficácia e sentido, aumentando o desânimo que leva à inação.

É preciso, portanto, refazer caminhos, a começar pelo reconhecimento da derrota: uma oposição que perde três disputas presidenciais não pode se acomodar com a falta de autocrítica e insistir em escusas que jogam a responsabilidade pelos fracassos no terreno “do outro”. Não estou, portanto, utilizando o que disse acima para justificar certa perplexidade das oposições, mas para situar melhor o campo no qual se devem mover.

Se as forças governistas foram capazes de mudar camaleonicamente a ponto de reivindicarem o terem construído a estabilidade financeira e a abertura da economia, formando os “campeões nacionais” – as empresas que se globalizam – isso se deu porque as oposições minimizaram a capacidade de contorcionismo do PT, que começou com a Carta aos Brasileiros de junho de 1994 e se desnudou quando Lula foi simultaneamente ao Fórum Social de Porto Alegre e a Davos.

Era o sinal de “adeus às armas”: socialismo só para enganar trouxas, nacional–desenvolvimentismo só como “etapa”. Uma tendência, contudo, não mudou, a do hegemonismo, ainda assim, aceitando aliados de cabresto.

Segmentos numerosos das oposições de hoje, mesmo no PSDB, aceitaram a modernização representada pelo governo FHC com dor de consciência, pois sentiam bater no coração as mensagens atrasadas do esquerdismo petista ou de sua leniência com o empreguismo estatal.

Não reivindicaram com força, por isso mesmo, os feitos da modernização econômica e do fortalecimento das instituições, fato muito bem exemplificado pela displicência em defender os êxitos da privatização ou as políticas saneadoras, ou de recusar com vigor a mentira repetida de que houve compra de votos pelo governo para a aprovação da emenda da reeleição, ou de denunciar atrasos institucionais, como a perda de autonomia e importância das agências reguladoras.

Da mesma maneira, só para dar mais alguns exemplos, o Proer e o Proes, graças aos quais o sistema financeiro se tornou mais sólido, foram solenemente ignorados, quando não estigmatizados. Os efeitos positivos da quebra dos monopólios, o do petróleo mais que qualquer outro, levando a Petrobras a competir e a atuar como empresa global e não como repartição pública, não foram reivindicados como êxitos do PSDB.

O estupendo sucesso da Vale, da Embraer ou das teles e da Rede Ferroviária sucumbiu no murmúrio maledicente de “privatarias” que não existiram. A política de valorização do salário mínimo, que se iniciou no governo Itamar Franco e se firmou no do PSDB, virou glória do petismo.

As políticas compensatórias iniciadas no governo do PSDB – as bolsas – que o próprio Lula acusava de serem esmolas e quase naufragaram no natimorto Fome Zero – voltaram a brilhar na boca de Lula, pai dos pobres, diante do silêncio da oposição e deslumbramento do país e… do mundo!

Não escrevo isso como lamúria, nem com a vã pretensão de imaginar que é hora de reivindicar feitos do governo peessedebista. Inês é morta, o passado… passou. Nem seria justo dizer que não houve nas oposições quem mencionasse com coragem muito do que fizemos e criticasse o lulismo.

As vozes dos setores mais vigorosos da oposição se estiolaram, entretanto, nos muros do Congresso e este perdeu força política e capacidade de ressonância. Os partidos se transformaram em clubes congressuais, abandonando as ruas; muitos parlamentares trocaram o exercício do poder no Congresso por um prato de lentilhas: a cada nova negociação para assegurar a “governabilidade”, mais vantagens recebem os congressistas e menos força político-transformadora tem o Congresso.

Na medida em que a maioria dos partidos e dos parlamentares foi entrando no jogo de fazer emendas ao orçamento (para beneficiar suas regiões, interesses – legítimos ou não – de entidades e, por fim, sua reeleição), o Congresso foi perdendo relevância e poder.

Consequentemente, as vozes parlamentares, em especial as de oposição, que são as que mais precisam da instituição parlamentar para que seu brado seja escutado, perderam ressonância na sociedade.

Com a aceitação sem protesto do “modo lulista de governar” por meio de medidas provisórias, para que serve o Congresso senão para chancelar decisões do Executivo e receber benesses? Principalmente, quando muitos congressistas estão dispostos a fazer o papel de maioria obediente a troco da liberação pelo Executivo das verbas de suas emendas, sem esquecer que alguns oposicionistas embarcam na mesma canoa.

Ironicamente, uma importante modificação institucional, a descentralização da ação executiva federal, estabelecida na Constituição de 1988 e consubstanciada desde os governos Itamar Franco e FHC, diluiu sua efetividade técnico–administrativa em uma pletora de recursos orçamentários “carimbados”, isto é, de orientação político-clientelista definida, acarretando sujeição ao Poder Central, ou, melhor, a quem o simboliza pessoalmente e ao partido hegemônico.

Neste sentido, diminuiu o papel político dos governadores, bastião do oposicionismo em estados importantes, pois a relação entre prefeituras e governo federal saltou os governos estaduais e passou a se dar mais diretamente com a presidência da República, por meio de uma secretaria especial colada ao gabinete presidencial.

Como, por outra parte, existe – ou existiu até a pouco – certa folga fiscal e a sociedade passa por período de intensa mobilidade social movida pelo dinamismo da economia internacional e pelas políticas de expansão do mercado interno que geram emprego, o desfazimento institucional produzido pelo lulismo e a difusão de práticas clientelísticas e corruptoras foram sendo absorvidos, diante da indiferença da sociedade.

Na época do mensalão, houve um início de desvendamento do novo Sistema (com S maiúsculo, como se escrevia para descrever o modelo político criado pelos governos militares).

Então, ainda havia indignação diante das denúncias que a mídia fazia e os partidos ecoavam no Parlamento. Pouco a pouco, embora a mídia continue a fazer denúncias, a própria opinião pública, isto é, os setores da opinião nacional que recebem informações, como que se anestesiou. Os cidadãos cansaram de ouvir tanto horror perante os céus sem que nada mude. Diante deste quadro, o que podem fazer as oposições?

Definir o público a ser alcançado

Em primeiro lugar, não manter ilusões: é pouco o que os partidos podem fazer para que a voz de seus parlamentares alcance a sociedade. É preciso que as oposições se deem conta de que existe um público distinto do que se prende ao jogo político tradicional e ao que é mais atingido pelos mecanismos governamentais de difusão televisiva e midiática em geral.

As oposições se baseiam em partidos não propriamente mobilizadores de massas. A definição de qual é o outro público a ser alcançado pelas oposições e como fazer para chegar até ele e ampliar a audiência crítica é fundamental. Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os “movimentos sociais” ou o “povão”, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos. Isto porque o governo “aparelhou”, cooptou com benesses e recursos as principais centrais sindicais e os movimentos organizados da sociedade civil e dispõe de mecanismos de concessão de benesses às massas carentes mais eficazes do que a palavra dos oposicionistas, além da influência que exerce na mídia com as verbas publicitárias.

Sendo assim, dirão os céticos, as oposições estão perdidas, pois não atingem a maioria. Só que a realidade não é bem essa. Existe toda uma gama de classes médias, de novas classes possuidoras (empresários de novo tipo e mais jovens), de profissionais das atividades contemporâneas ligadas à ti (tecnologia da informação) e ao entretenimento, aos novos serviços espalhados pelo Brasil afora, às quais se soma o que vem sendo chamado sem muita precisão de “classe c” ou de nova classe média.

Digo imprecisamente porque a definição de classe social não se limita às categorias de renda (a elas se somam educação, redes sociais de conexão, prestígio social, etc.), mas não para negar a extensão e a importância do fenômeno. Pois bem, a imensa maioria destes grupos – sem excluir as camadas de trabalhadores urbanos já integrados ao mercado capitalista – está ausente do jogo político-partidário, mas não desconectada das redes de internet, Facebook, YouTube, Twitter, etc.

É a estes que as oposições devem dirigir suas mensagens prioritariamente, sobretudo no período entre as eleições, quando os partidos falam para si mesmo, no Congresso e nos governos. Se houver ousadia, os partidos de oposição podem organizar-se pelos meios eletrônicos, dando vida não a diretórios burocráticos, mas a debates verdadeiros sobre os temas de interesse dessas camadas.

Mas não é só isso: as oposições precisam voltar às salas universitárias, às inúmeras redes de palestras e que se propagam pelo país afora e não devem, obviamente, desacreditar do papel da mídia tradicional: com toda a modernização tecnológica, sem a sanção derivada da confiabilidade, que só a tradição da grande mídia assegura, tampouco as mensagens, mesmo que difundidas, se transformam em marcas reconhecidas.

Além da persistência e ampliação destas práticas, é preciso buscar novas formas de atuação para que a oposição esteja presente, ou pelo menos para que entenda e repercuta o que ocorre na sociedade. Há inúmeras organizações de bairro, um sem-número de grupos musicais e culturais nas periferias das grandes cidades, etc., organizações voluntárias de solidariedade e de protesto, redes de consumidores, ativistas do meio ambiente, e por aí vai, que atuam por conta própria.

Dado o anacronismo das instituições político-partidárias, seria talvez pedir muito aos partidos que mergulhem na vida cotidiana e tenham ligações orgânicas com grupos que expressam as dificuldades e anseios do homem comum. Mas que pelo menos ouçam suas vozes e atuem em consonância com elas.

Não deve existir uma separação radical entre o mundo da política e a vida cotidiana, nem muito menos entre valores e interesses práticos. No mundo interconectado de hoje, vê-se, por exemplo, o que ocorre com as revoluções no meio islâmico, movimentos protestatórios irrompem sem uma ligação formal com a política tradicional. Talvez as discussões sobre os meandros do poder não interessem ao povo no dia-a-dia tanto quanto os efeitos devastadores das enchentes ou o sufoco de um trânsito que não anda nas grandes cidades. Mas, de repente, se dá um “curto-circuito” e o que parecia não ser “política” se politiza. Não foi o que ocorreu nas eleições de 1974 ou na campanha das “diretas já”?

Nestes momentos, o pragmatismo de quem luta para sobreviver no dia-a-dia lidando com questões “concretas” se empolga com crenças e valores. O discurso, noutros termos, não pode ser apenas o institucional, tem de ser o do cotidiano, mas não desligado de valores. Obviamente em nosso caso, o de uma democracia, não estou pensando em movimentos contra a ordem política global, mas em aspirações que a própria sociedade gera e que os partidos precisam estar preparados para que, se não os tiverem suscitado por sua desconexão, possam senti-los e encaminhá-los na direção política desejada.

Seria erro fatal imaginar, por exemplo, que o discurso “moralista” é coisa de elite à moda da antiga UDN. A corrupção continua a ter o repúdio não só das classes médias como de boa parte da população. Na última campanha eleitoral, o momento de maior crescimento da candidatura Serra e de aproximação aos resultados obtidos pela candidata governista foi quando veio à tona o “episódio Erenice”.

Mas é preciso ter coragem de dar o nome aos bois e vincular a “falha moral” a seus resultados práticos, negativos para a população. Mais ainda: é preciso persistir, repetir a crítica, ao estilo do “beba Coca Cola” dos publicitários. Não se trata de dar-nos por satisfeitos, à moda de demonstrar um teorema e escrever “cqd”, como queríamos demonstrar.

Seres humanos não atuam por motivos meramente racionais. Sem a teatralização que leve à emoção, a crítica – moralista ou outra qualquer– cai no vazio. Sem Roberto Jefferson não teria havido mensalão como fato político.

Qual é a mensagem?

Por certo, os oposicionistas para serem ouvidos precisam ter o que dizer. Não basta criar um público, uma audiência e um estilo, o conteúdo da mensagem é fundamental. Qual é a mensagem? O maior equívoco das oposições, especialmente do PSDB, foi o de haver posto à margem as mensagens de modernização, de aggiornamento do País, e de clara defesa de uma sociedade democrática comprometida com causas universais, como os direitos humanos e a luta contra a opressão, mesmo quando esta vem mascarada de progressismo, apoiada em políticas de distribuição de rendas e de identificação das massas com o Chefe.

Nas modernas sociedades democráticas, por outro lado, o Estado tanto mantém funções na regulação da economia como em sua indução, podendo chegar a exercer papel como investidor direto. Mas o que caracteriza o Estado em uma sociedade de massas madura é sua ação democratizadora.

Os governos devem tornar claros, transparentes, e o quanto possível imunes à corrupção, os mecanismos econômicos que cria para apoiar o desenvolvimento da economia. Um Estado moderno será julgado por sua eficiência para ampliar o acesso à educação, à saúde e à previdência social, bem como pela qualidade da segurança que oferece às pessoas.Cabe às oposições serem a vanguarda nas lutas por estes objetivos.

Defender o papel crescente do Estado nas sociedades democráticas, inclusive em áreas produtivas, não é contraditório com a defesa da economia de mercado. Pelo contrário, é preciso que a oposição diga alto e bom som que os mecanismos de mercado, a competição, as regras jurídicas e a transparência das decisões são fundamentais para o Brasil se modernizar, crescer economicamente e se desenvolver como sociedade democrática.

Uma sociedade democrática amadurecida estará sempre comprometida com a defesa dos direitos humanos, com a ecologia e com o combate à miséria e às doenças, no país e em toda a parte. E compreende que a ação isolada do Estado, sem a participação da sociedade, inclusive dos setores produtivos privados, é insuficiente para gerar o bem-estar da população e oferecer bases sólidas para um desenvolvimento econômico sustentado.

Ao invés de se aferrarem a esses valores e políticas que lhes eram próprios como ideologia e como prática, as oposições abriram espaço para que o lulopetismo ocupasse a cena da modernização econômica e social. Só que eles têm os pés de barro: a cada instante proclamam que as privatizações “do PSDB” foram contra a economia do País, embora comecem a fazer descaradamente concessões de serviços públicos nas estradas e nos aeroportos, como se não estivessem fazendo na prática o mea-culpa.

Cabe às oposições não apenas desmascarar o cinismo, mas, sobretudo, cobrar o atraso do País: onde está a infraestrutura que ficou bloqueada em seus avanços pelo temor de apelar à participação da iniciativa privada nos portos, nos aeroportos, na geração de energia e assim por diante?

Quão caro já estamos pagando pela ineficiência de agências reguladoras entregues a sindicalistas “antiprivatizantes” ou a partidos clientelistas, como se tornou o PC d B, que além de vender benesses no ministério dos Esportes, embota a capacidade controladora da ANP, que deveria evitar que o monopólio voltasse por vias transversas e prejudicasse o futuro do País.

Oposição precisa vender o peixe

Dirão novamente os céticos que nada disso interessa diretamente ao povo. Ora, depende de como a oposição venda o peixe. Se tomarmos como alvo, por exemplo, o atraso nas obras necessárias para a realização da Copa e especializarmos três ou quatro parlamentares ou técnicos para martelar no dia-a-dia, nos discursos e na internet, o quanto não se avança nestas áreas por causa do burocratismo, do clientelismo, da corrupção ou simplesmente da viseira ideológica que impede a competição construtiva entre os setores privados e destes com os monopólios, e se mostrarmos à população como ela está sendo diretamente prejudicada pelo estilo petista de política, criticamos este estilo de governar, suscitamos o interesse popular e ao mesmo tempo oferecemos alternativas.

Na vida política tudo depende da capacidade de politizar o apelo e de dirigi-lo a quem possa ouvi-lo. Se gritarmos por todos os meios disponíveis que a dívida interna de R$ 1,69 trilhão (mostrando com exemplos ao que isto corresponde) é assustadora, que estamos pagando R$ 50 bilhões por ano para manter reservas elevadas em dólares, que pagamos a dívida (pequena) ao FMI sobre a qual incidiam juros moderados, trocando-a por dívidas em reais com juros enormes, se mostrarmos o quanto custa a cada contribuinte cada vez que o Tesouro transfere ao BNDES dinheiro que o governo não tem e por isso toma emprestado ao mercado pagando juros de 12% ao ano, para serem emprestados pelo BNDES a juros de 6% aos grandes empresários nacionais e estrangeiros, temos discurso para certas camadas da população.

Este discurso deve desvendar, ao mesmo tempo, o porquê do governo assim proceder: está criando um bloco de poder capitalista-burocrático que sufoca as empresas médias e pequenas e concentra renda.

Este tipo de política mostra descaso pelos interesses dos assalariados, dos pequenos produtores e profissionais liberais de tipo antigo e novo, setores que, em conjunto, custeiam as benesses concedidas ao grande capital com impostos que lhe são extraídos pelo governo.

O lulopetismo não está fortalecendo o capitalismo em uma sociedade democrática, mas sim o capitalismo monopolista e burocrático que fortalece privilégios e corporativismos.

Com argumentos muito mais fracos o petismo acusou o governo do PSDB quando, em fase de indispensável ajuste econômico, aumentou a dívida interna (ou, melhor, reconheceu os “esqueletos” compostos por dívidas passadas) e usou recursos da privatização – todos contabilizados – para reduzir seu crescimento. A dívida pública consolidada do governo lulista foi muito maior do que a herdada por este do governo passado e, no entanto, a opinião pública não tomou conhecimento do fato.

As oposições não foram capazes de politizar a questão. E o que está acontecendo agora quando o governo discute substituir o fator previdenciário, recurso de que o governo do PSDB lançou mão para mitigar os efeitos da derrota sofrida para estabelecer uma idade mínima de aposentadoria? Propondo a troca do fator previdenciário pela definição de… uma idade mínima de aposentadoria.

Petistas camaleões

Se os governistas são camaleões (ou, melhor, os petistas, pois boa parte dos governistas nem isso são: votavam com o governo no passado e continuam a votar hoje, como votarão amanhã, em vez de saudá-los porque se aproximam da racionalidade ou de votarmos contra esta mesma racionalidade, negando nossas crenças de ontem, devemos manter a coerência e denunciar as falsidades ideológicas e o estilo de política de mistificação dos fatos, tantas vezes sustentado pelo petismo.

São inumeráveis os exemplos sobre como manter princípios e atuar como uma oposição coerente. Mesmo na questão dos impostos, quando o PSDB e o DEM junto com o PPS ajudaram a derrubar a CPMF, mostraram que, coerentes, dispensaram aquele imposto porque ele já não era mais necessário, como ficou demonstrado pelo contínuo aumento da receita depois de sua supressão.

É preciso continuar a fazer oposição à continuidade do aumento de impostos para custear a máquina público-partidária e o capitalismo burocrático dos novos dinossauros. É possível mostrar o quanto pesa no bolso do povo cada despesa feita para custear a máquina público-partidária e manter o capitalismo burocrático dos novos dinossauros. E para ser coerente, a oposição deve lutar desde já pela redução drástica do número de cargos em comissão, nomeados discricionariamente, bem como pelo estabelecimento de um número máximo de ministérios e secretarias especiais, para conter a fúria de apadrinhamento e de conchavos partidários à custa do povo.

Em suma: não há oposição sem “lado”. Mais do que ser de um partido, é preciso “tomar partido”.

É isso que a sociedade civil faz nas mais distintas matérias. O que o PSDB pensa sobre liberdade e pluralidade religiosa? Como manter a independência do Estado laico e, ao mesmo tempo, prestigiar e respeitar as religiões que formam redes de coesão social, essenciais para a vida em sociedade? O que pensa o partido sobre o combate às drogas? É preciso ser claro e sincero: todas as drogas causam danos, embora de alcance diferente. Adianta botar na cadeia os drogados?

Sinceridade comove a população

Há casos nos quais a regulação vale mais que a proibição: veja-se o tabaco e o álcool, ambos extremadamente daninhos. São não apenas regulados em sua venda e uso (por exemplo, é proibido fumar em locais fechados ou beber depois de uma festa e guiar automóveis) como estigmatizados por campanhas publicitárias, pela ação de governos e das famílias.

Não seria o caso de fazer a mesma coisa com a maconha, embora não com as demais drogas muito mais danosas, e concentrar o fogo policial no combate aos traficantes das drogas pesadas e de armas? Se disso ainda não estivermos convencidos, pelo menos não fujamos à discussão, que já corre solta na sociedade. Sejamos sinceros: é a sinceridade que comove a população e não a hipocrisia que pretende não ver o óbvio.

Se a regra é ser sincero, por que temer ir fundo e avaliar o que nós próprios fizemos no passado, acreditando estar certos, e que continua sendo feito, mas que requer uma revisão?

Tome-se o exemplo da reforma agrária e dos programas de incentivo à economia familiar.

Fomos nós do PSDB que recriamos o Ministério da Reforma Agrária e, pela primeira vez, criamos um mecanismo de financiamento da agricultura familiar, o Pronaf. Nenhum governo fez mais em matéria de acesso à terra do que o do PSDB quando a pasta da Reforma era dirigida por um membro do PPS.

Não terá chegado a hora de avaliar os resultados? O Pronaf não estará se transformando em mecanismo de perpétua renovação de dívidas, como os grandes agricultores faziam no passado com suas dívidas no Banco do Brasil? Qual é o balanço dos resultados da reforma agrária? E as acusações de “aparelhamento” da burocracia pelo PT e pelo MST são de fato verdadeiras?

Sem que a oposição afirme precipitadamente que tudo isso vai mal – o que pode não ser correto – não pode temer buscar a verdade dos fatos, avaliar, julgar e criticar para corrigir.

Existe matéria em abundância para manter os princípios e para ir fundo nas críticas sem temer a acusação injusta de que se está defendendo “a elite”. Mas política não é tese universitária. É preciso estabelecer uma agenda. Geralmente esta é dada pelo governo. Ainda assim, usemo-la para concentrar esforços e dar foco, repetição e persistência à ação oposicionista.

Tomemos um exemplo, o da reforma política, tema que o governo afirma estar disposto a discutir. Pois bem, o PSDB tem posição firmada na matéria: é favorável ao voto distrital (misto ou puro, ainda é questão indefinida). Se é assim, por que não recusar de plano a proposta da “lista fechada”, que reforça a burocracia partidária, não diminui o personalismo (ou alguém duvida que se pedirão votos para a lista “do Lula”?) e separa mais ainda o eleitor dos representantes?

Compromisso com o voto digital

Não é preciso afincar uma posição de intransigência: mantenhamos o compromisso com o voto distrital, façamos a pregação.

Se não dispusermos de forças para que nossa tese ganhe, aceitemos apenas os melhoramentos óbvios no sistema atual: cláusula de desempenho (ou de barreira), proibição de coligações nas eleições proporcionais e regras de fidelidade partidária, ainda que para algumas destas medidas seja necessário mudança constitucional.

Deixemos para outra oportunidade a discussão sobre financiamento público das campanhas, pois sem a distritalização o custo para o contribuinte será enorme e não se impedirá o financiamento em “caixa preta” nem o abuso do poder econômico. Mas denunciemos o quanto de antidemocrático existe no voto em listas fechadas.

Em suma: não será esta uma boa agenda para a oposição firmar identidade, contrapor-se à tendência petista de tudo burocratizar e, ao mesmo tempo, não se encerrar em um puro negativismo aceitando modificações sensatas?

Por fim, retomando o que disse acima sobre o “triunfo do capitalismo”. O governo do PT e o próprio partido embarcaram, sem dizer, na adoração do bezerro de ouro. Mas, marcados pelos cacoetes do passado, não perceberam que o novo na fase contemporânea do capitalismo não é apenas a acumulação e o crescimento da economia.

Os grandes temas que se estão desenhando são outros e têm a ver com o interesse coletivo: como expandir a economia sem destroçar o meio ambiente, como assegurar direitos aos destituídos deles, não só pela obreza, mas pelas injustiças (desigualdades de gênero, de raça, de acesso à cultura)? Persistem preocupações antigas: como preservar a Paz em um mundo no qual há quem disponha da bomba nuclear?

A luta pela desnuclearização tem a ver com o sentido de um capitalismo cuja forma “selvagem” a sociedade democrática não aceita mais.

Esta nova postura é óbvia no caso da ecologia, pois o natural egoísmo dos Estados, na formulação clássica, se choca com a tese primeira, a da perpetuação da vida humana. O terror atômico e o aquecimento global põem por terra visões fincadas no terreno do nacional-estatismo arcaico.

Há um nacionalismo de novo tipo, democrático, aberto aos desafios do mundo e integrado nele, mas alerta aos interesses nacionais e populares. Convém redefinir, portanto, a noção do interesse nacional, mantendo-o persistente e alerta no que é próprio aos interesses do País, mas compatibilizando-o com os interesses da humanidade.

Estas formulações podem parecer abstratas, embora se traduzam no dia-a-dia: no Brasil, ninguém discute sobre qual o melhor modo de nossa presença no mundo: será pelo velho caminho armamentista, nuclearizando-nos, ou nossas imensas vantagens comparativas em outras áreas, entre elas as do chamado soft power, podem primar?

Por exemplo, nossa “plasticidade cultural mestiça”, a aceitação das diferenças raciais – sem que se neguem e combatam as desigualdades e preconceitos ainda existentes – não são um ganho em um mundo multipolar e multicultural? E a disponibilidade de uma matriz energética limpa, sem exageros de muitas usinas atômicas (sempre perigosas), bem como os avanços na tecnologia do etanol, não nos dão vantagens?

Por que não discutir, a partir daí, o ritmo em que exploraremos o pré-sal e as obscuras razões para a “estatização do risco e divisão do lucro” entre a Petrobras e as multinacionais por meio do sistema de partilha? São questões que não exploramos devidamente, ou cujas decisões estão longe de ser claramente compatíveis com o interesse nacional de longo prazo.

Falta de estratégia

Na verdade, falta-nos estratégia. Estratégia não é plano de ação: é o peso relativo que se dá às questões desafiadoras do futuro somado à definição de como as abordaremos. Que faremos neste novo mundo para competir com a China, com os Estados Unidos ou com quem mais seja? Como jogar com nossos recursos naturais (petróleo à frente) como fator de sucesso e poder sem sermos amanhã surpreendidos pelo predomínio de outras fontes de energia? E, acima de tudo, como transformar em políticas o anseio por uma “revolução educacional” que dê lugar à criatividade, à invenção e aos avanços das tecnologias do futuro?

A China, ao que parece, aprendeu as lições da última crise e está apostando na inovação, preparando-se para substituir as fontes tradicionais de energia, sobretudo o petróleo, de que não dispõe em quantidade suficiente para seu consumo crescente. E os próprios Estados Unidos, embora atônitos com os erros acumulados desde a gestão Bush, parecem capazes de continuar inovando, se conseguirem sair depressa da crise financeira que os engolfou.

De tudo isso o PT e seus governos falam, mas em ziguezague. As amarras a uma visão oposta, vinda de seu passado recente, os inibem para avançar mais. Não é hora das oposições serem mais afirmativas? E se por acaso, como insinuei no início deste artigo, houver divisões no próprio campo do petismo por causa da visão canhestra de muitos setores que apoiam o governo e de suas necessidades práticas o levarem a direções menos dogmáticas?

Neste caso, embora seja cedo para especular, terá a oposição inteireza e capacidade política para aproveitar as circunstâncias e acelerar a desagregação do antigo e apostar no novo, no fortalecimento de uma sociedade mais madura e democrática?

Engana-se quem pensar que basta manter a economia crescendo e oferecer ao povo a imagem de uma sociedade com mobilidade social.

Esta, ao ocorrer, aumenta as demandas tanto em termos práticos, de salários e condições de vida, como culturais. Em um mundo interconectado pelos modernos meios de comunicação o cidadão comum deseja saber mais, participar mais e avaliar por si se de fato as diferenças econômicas e sociais estão diminuindo.

Sem, entretanto, uma oposição que se oponha ao triunfalismo lulista, que coroa a alienação capitalista, desmistificando tudo o que seja mera justificativa publicitária do poder e chamando a atenção para os valores fundamentais da vida em uma sociedade democrática, só ocorrerão mudanças nas piores condições: quando a fagulha de alguma insatisfação produzir um curto-circuito. Mesmo este adiantará pouco se não houver à disposição uma alternativa viável de poder, um caminho preparado por lideranças nas quais a população confie.

No mundo contemporâneo este caminho não se constrói apenas por partidos políticos, nem se limita ao jogo institucional. Ele brota também da sociedade, de seus blogs, twitters, redes sociais, da mídia, das organizações da sociedade civil, enfim, é um processo coletivo. Não existe apenas uma oposição, a da arena institucional; existem vários focos de oposição, nas várias dimensões da sociedade.

Reitero: se as oposições institucionais não forem capazes de se ligar mais diretamente aos movimentos da vida, que pelo menos os ouçam e não tenham a pretensão de imaginar que pelo jogo congressual isolado alcançarão resultados significativos.

Os vários focos de insatisfação social, por sua vez, também podem se perder em demandas específicas a serem atendidas fragmentariamente pelo governo se não encontrarem canais institucionais que expressem sua vontade maior de transformação.

As oposições políticas, por fim, se nada ou pouco tiverem a ver com as múltiplas demandas do cotidiano, como acumularão forças para ganhar a sociedade?

(Fernando Henrique Cardoso é ex-presidente da República (1995-2003)

segunda-feira, 11 de abril de 2011

SEMEGHINI É ELEITO PRESIDENTE DO DIRETÓRIO MUNICIPAL DO PSDB DE SÃO PAULO


São Paulo - Depois de uma negociação tensa entre o Palácio dos Bandeirantes - sede do governo paulista - e a Câmara de Vereadores da capital, o PSDB paulista elegeu ontem o secretário estadual de Gestão Pública, Júlio Semeghini, para conduzir o diretório municipal da sigla. Dos 71 votos possíveis ele recebeu 70. Já a escolha dos 70 membros titulares do diretório e seus 24 suplentes, prevista para ocorrer na mesma votação, não ocorreu. Um acordo selou a proposta de que essa definição ocorra em uma reunião na próxima quinta-feira (14), ainda sem local definido.

A eleição de Semeghini significa, na prática, que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, terá peso significativo na escolha do candidato da sigla para a Prefeitura de São Paulo.

Publicamente, embora tenha admitido que ainda é cedo para discutir o assunto, Alckmin defendeu que o ex-governador José Serra seria o melhor nome para a disputa. No entanto, se Serra não aceitar a missão, como vem manifestando, a candidatura será escolhida entre os secretários estaduais José Aníbal (Energia) e Bruno Covas (Meio Ambiente), e o titular da Secretaria Municipal de Esportes da capital, Walter Feldmann, que corre por fora.



Aníbal, muito próximo de Alckmin, abriu mão de disputar o Senado em 2010 depois de ferrenha disputa interna. Bruno, neto do governador Mário Covas, também tem a simpatia do governador e o cacife de quase 240 mil votos na eleição para deputado estadual, o mais votado do País.



Passada a escolha do diretório municipal, o PSDB volta às urnas na primeira semana de maio para eleger o deputado estadual Pedro Tobias para a direção estadual.

"A condução do Tobias à presidência do partido foi uma convergência natural", afirma o presidente estadual, Mendes Thame.



Em 29 de maio o partido promoverá sua convenção nacional, com forte tendência para reeleger o senador Sérgio Guerra ao posto.



Embate nacional

Se, por um lado, o DEM assiste à perda de quadros provocada pela fundação do PSD, pelo prefeito da capital, Gilberto Kassab, o PSDB não fica para trás.

Nacionalmente, o senador mineiro Aécio Neves se lança como estandarte da oposição ao discursar contra o PT e o governo de Dilma no plenário do Senado sob o olhar atento do ex-governador José Serra. Enquanto o primeiro tenta se credenciar desde cedo como candidato à Presidência em 2014, Serra afirma que é um erro precipitar esse debate.

"Acho um erro. Acho tudo uma falsa questão fazer tudo pela ótica de 2014", condenou Serra.

Recentemente, o paulista vem acumulando derrotas na queda de braço com o mineiro. Embora a convenção nacional esteja marcada para 28 de maio, a articulação para reconduzir o senador Sérgio Guerra à presidência nacional da sigla segue de vento em popa. Aliados do ex-governador que tentaram emplacar sua candidatura à presidência do partido se conformaram com a criação de um Conselho Político, também a ser presidido por Serra, que teria poderes para influir no destino da sigla. No entanto, o partido decidiu que os poderes do conselho deveriam ser esvaziados.

A divergência entre os dois maiores quadros políticos do tucanato não se atém somente às eleições presidenciais. Os dois postulantes ao Planalto percorrem caminhos distintos igualmente quando o tema é a reforma política, uma das bandeiras de Serra na eleição passada.

Em um seminário promovido pelo partido em Brasília na última semana, José Serra defendeu o sistema distrital misto a ser adotado já nas eleições de 2012, enquanto Aécio Neves convocou seus pares a apoiar o fim das coligações nas eleições proporcionais, cláusula de barreira, fidelidade partidária e fim da reeleição com mandato ampliado para cinco anos, todos estes pontos foram contemplados pela Comissão Especial de Reforma Política do Senado Federal.

Repercussão

Mendes Thame comentou que não vê o isolamento de Serra na sigla e defendeu que o debate de 2014 não seja lançado agora.

"Eu não vejo esse cerceamento ao Serra. Talvez porque as pessoas de fora têm essa ideia. Acompanho a vida partidária e, pelo contrário, ele [Serra] tem participado de palestras, ido a Brasília com frequência e mantido diálogo com a bancada", enumerou.

Sobre 2014, Thame defendeu que o partido se utilize do estatuto das prévias para escolher seus candidatos. Também colocou que é precipitado debater candidaturas tanto à prefeitura quanto à Presidência imediatamente.

"O estatuto do partido já prevê essa alternativa e eu a defendi no ano passado. No entanto, como se construiu o consenso anteriormente, as prévias não aconteceram. Eu acho que é o melhor instrumento de debate de que o partido dispõe para construir candidaturas fortes", afirmou o deputado acrescentando que "é cedo para escolher candidato a prefeito agora. Eu defendo que seja escolhido no mês de janeiro do ano da eleição. E se acredito que a escolha de um candidato a prefeito é precipitada agora, digo o mesmo para a candidatura à Presidência. Antecipar esse debate é colocar o carro na 'frente dos bois'", finaliza o político.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

EM SEU PRIMEIRO DISCURSO NO SENADO,AÉCIO DIZ QUE BRASIL PRECISA DE "CHOQUE DE REALIDADE"


TUCANO DEFENDE HERANÇA DE FHC E DISSE QUE PAIS NÃO NASCEU ONTEM


Em seu primeiro discurso no Senado,Aécio subiu ao plenário nesta quarta-feira (6) para apontar contradições no governo petista de Dilma Rousseff e seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva. Em um discurso que exaltou a herança dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Itamar Franco (1992-1994), o tucano disse que o Brasil não “nasceu ontem” e que precisa de um “choque de realidade”.

- O Brasil precisa nesse momento de um choque de realidade que nos permita compreender a situação do pais.

Citou, entre as contradições, o desajuste fiscal e a “inércia” do governo do PT em realizar grandes reformas, como a trabalhista, a política e a tributária.

O discurso de Aécio, que após a derrota de José Serra (PSDB) nas eleições presidenciais de 2010 surge como um dos principais nomes da oposição no país, coloca algumas diretrizes de como a oposição atuará durante o governo de Dilma Rousseff.

- Os que ainda não me conhecem bem e esperam encontrar em mim ataques pessoais no exercício da oposição, vão se decepcionar. Não confundo agressividade com firmeza, não confundo adversário com inimigo. Os que ainda não me conhecem bem e acham que vão encontrar em mim tolerância diante dos erros praticados pelo governo também vão se decepcionar. Não confundo o direito à defesa e ao contraditório com complacência e compadrio.

Ao reforçar o papel de uma oposição “fiscalizadora”, Aécio fez duras críticas ao governo petista e avisou que não avaliava apenas os três primeiros meses de Dilma, mas o período de quase nove anos da gestão petista.

- Não é bom para um partido inaugurar uma nova fase de governo sobre a égide de compromissos não cumpridos.

O tucano ainda citou algumas das propostas oposicionistas que defenderá e lembrou que, algumas delas, foram bandeiras da campanha tucana em 2010, como a desoneração de impostos para empresas de saneamento e para empresas de energia, reduzindo o valor da conta de luz da população de baixa renda.

Citando Serra, que acompanhou o discurso de Aécio junto aos outros senadores, o mineiro ainda fez uma crítica velada às disputas internas que tumultuam os partidos de oposição e disse que defende uma oposição que não "é a coligação de partidos, mas uma lucidez contra os erros do poder publico."